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terça-feira, 16 de agosto de 2011

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A NATUREZA DO XADREZ

Gostaria de dividir com todos os amantes do xadrez que acompanham este Blog, o texto escrito e encaminhado por nosso amigo e enxadrista Marcelo Bouwman.
Vejamos o texto, cujo título foi acima transcrito:
  
O xadrez é um jogo de estratégia milenar, onde participam dois indivíduos em um combate intelectual singular, envolvendo elementos desportivos, científicos e artísticos.

O filósofo Montaigne apontava para a natureza paradoxal do xadrez quando afirmava que o xadrez é muito jogo para ser considerado ciência e, ao mesmo tempo, muita ciência para ser considerado um jogo. Já o poeta Goethe destacava o aspecto nobre do jogo ao dizer que o xadrez é a ginástica da inteligência. Há também aqueles que tentam relativizar, ou mesmo minimizar, a importância do jogo de xadrez, como o escritor Bernard Shaw, que ironizava admitindo que o xadrez desenvolve a inteligência para jogar xadrez!

Polêmicas à parte, o xadrez não foi criado tão somente para distração durante os momentos de ócio, se fosse assim não haveria podido sobreviver às duras provas a que foi submetido em sua dilatada existência. Hoje sabemos o quanto o xadrez estimula o raciocínio lógico, o planejamento estratégico, a gerência do tempo e a tomada responsável de decisões. Tal qual a vida, o xadrez é feito de escolhas, conscientes ou não, que têm conseqüências. Aprender com a experiência e com os próprios erros é uma de suas melhores metas e um dos principais meios para o auto-aperfeiçoamento.

Outra característica importante é a reduzida participação do elemento sorte no xadrez. Trata-se inteiramente de um jogo de habilidade, onde o jogador mais hábil vencerá sempre ao menos hábil, e esta habilidade se desenvolve com a prática e com o estudo, não havendo casos nos quais a maestria tenha sido alcançada com a mera prática nem com somente o estudo. Nisto o xadrez se assemelha a toda arte e toda ciência.

Que representa o xadrez para quem o pratica assiduamente? Ante esta pergunta, muito habitual, os jogadores de xadrez dão respostas tão variadas como seus diferentes níveis. Em geral, tem-se comprovado que quanto mais forte é o jogador interrogado, quanto maior é sua dedicação ao estudo do jogo, mais difícil lhe resulta responder a uma pergunta em aparência tão simples.

O grande mestre francês, Joel Lautier, como jogador de competição, arriscou uma resposta mais elaborada. Ao inquisidor curioso e impaciente, Lautier diria que se trata de um jogo no fundo e de um desporte na forma. Se o interlocutor dispusesse de mais tempo, ele falaria da rigorosa preparação prévia à partida, da intensa concentração necessária para calcular com precisão as variantes, do profundo gozo estético quando se descobre uma combinação, do absoluto domínio de si mesmo no momento crítico da partida, da paciência imprescindível para desmontar uma a uma as últimas defesas do adversário. Finalmente, se a pergunta é feita por um de seus confidentes, Lautier falaria também da angústia da luta, dessas terríveis derrotas que são como pequenas mortes momentâneas.

Ademais a sua complexidade, o xadrez fascina por sua lógica intrínseca ou, melhor ainda, por seu equilíbrio quase divino, que o grande jogador põe de manifesto graças à sua intuição e à sua imaginação, e que o computador consegue alcançar graças a cálculos de uma precisão prodigiosa.

Voltando à questão do que representa o xadrez para o aficcionado, não resta dúvida que a resposta de um artista como Marcel Duchamp, um cientista como Albert Einstein ou um escritor como Vladimir Nabokov, todos grandes apaixonados do nobre jogo, haveria sido diferente. Cabe a cada enxadrista buscar a sua sincera, e difícil, resposta!

23-04-2011

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